quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O tiro pela culatra

É engraçado como as autoridades continuam inaptas para conviver e dialogar com as diferenças, sacrificando o debate e colocando apenas mais lenha na fogueira em torno de questões polêmicas como no da descriminalização da maconha.

Na maioria dos estados, a exemplo do que ocorreu na Paraíba, o Ministério Público entrou com ação para impedir a Marcha da Maconha. O evento previsto para acontecer ontem em João Pessoa certamente não teria recebido tantos holofotes caso fosse realizado da forma que estava programada inicialmente.

Mas em nome da “moral e dos bons costumes”, as proibições legais acabaram despertando na população reações que foram do revanchismo à curiosidade; mas não passaram por discussões sérias. Com o intuito de evitar o que talvez se restringisse a um passeiozinho pela orla – afinal nem todo mundo que usa a droga tem coragem ou necessidade para fazer declarações públicas – virou a Marcha da Democracia.

E quem será capaz de proibir, bramir ou se posicionar contrário a um movimento pela democracia, ainda que mobilizado pelos defensores da legalização da cannabis sativa?

Ninguém. Porque quem reagiu foi na verdade, indiretamente responsável pela mudança de nome da marcha(mas não do seu objetivo) garantindo sua realização, e em segundo lugar porque se assim o fizessem, teríamos a retomada explícita de práticas ditatoriais, e uma manifestação pacífica que contou com pouco mais de 100 pessoas, poderia ganhar adesão comparável à histórica Passeata dos Cem Mil.(Fernanda Souza)


Fonte: Jornal Correio da Paraíba, Terça-feira, 06 de maio de 2008, Informe de Campina