sábado, 14 de fevereiro de 2009

Voltando às drogas

por Rubens Nóbrega

Antes que um aventureiro lance mão e tente, de má fé, distorcer o pensamento do promotor de Justiça Valério Bronzeado, é bom deixar claro que ele não é, em absoluto defensor do uso de qualquer droga.
É bom deixar claro, mesmo o que parece óbvio. Há sempre uma alma sebosa a espreita, esperando a primeira chance para queimar o filme de quem não segue o figurino estabelecido.
No caso do Doutor Bronzeado, baseado em cabe o esclarecimento porque fiz coluna semana passada baseado em proposta dele de um debate nacional sobre a melhor estratégia de combater “o mal gravíssimo das drogas”.
Umas poucas reações mostraram que ainda causa certa confusão quando uma autoridade se manifesta diferentemente do comum de seus pares e foge ao conservadorismo com que a maioria trata o problema.
E olha que o debate proposto pelo promotor antecederia, para servir de subsídio, qualquer mudança na lei ou adoção de medidas para descriminalizar inteiramente o consumo das drogas.
A idéia de Valério Bronzeado é, portanto, da mais clarividente parcimônia. E para não ter nenhuma dúvida quanto ao que o homem pensa e sugere, reproduzo a mensagem que enviou ontem ao colunista sobre o assunto.pressão

Diz aí, Doutor

Sou radicalmente contrário ao uso de qualquer tipo de entorpecente e ainda contrário ao alcoolismo e ao tabagismo. Tenho procurado combater esse mal de todas as formas.
Deus nos deu o dom da vida para que usufruíssemos dele tal qual nos foi legado. É imanente a qualquer ser vivo e principalmente ao ser humano priorizar a conservação de suas funções orgânicas, físicas e mentais.
Por conseguinte, somente uma minoria de insensatos e inconseqüentes é que se entrega a toxicofilia e vícios ruinosos como o alcoolismo, que agridem o organismo, aniquilam valores de convivência social, abatem o ego e impedem a realização pessoal.
Em face da tragédia nacional decorrente do tráfico ilícito de drogas, defendo um debate nacional sobre a melhor estratégia a se combater o mal gravíssimo das drogas.

Pergunta ele
  1. Quanto a sociedade gasta atualmente na prevenção ao consumo de entorpecentes?
  2. Quanto a sociedade gasta atualmente na repressão aos entorpecentes e quanto gastaria para ter um aparato de repressão ideal para esse fim?
  3. Quanto a sociedade gasta na manutenção de prisioneiros decorrente do comércio e do consumo de drogas?
  4. Quantos policiais foram assassinados em razão ao combate ao tráfico de drogas?
  5. Quantas chacinas ocorreram e quantas pessoas foram mortas (sobretudo jovens) em decorrência do comércio de drogas e acertos de conta?
  6. Quantas pessoas ficaram alienadas (loucas) ou foram mortas em decorrência do consumo exagerado de drogas?
  7. Quanto a sociedade gasta na internação e recuperação de drogadictos?
  8. Qual a movimentação financeira do tráfico ilícito de entorpecentes?
  9. Qual a estimativa de consumo anual de entorpecentes?

Duas respostas

Os números e dados variam uma enormidade, mas baseado em referências confiáveis, dá para responder pelo menos as duas últimas perguntas do promotor.
Levantamentos realizados por organizações internacionais apontam para um movimento financeiro de até 500 bilhões de dólares no chamado narcocomércio.
Quanto ao consumo, é mais fácil estimar os consumidores: apenas 0,6% da população mundial entre 15 e 64 anos é consumidora de maconha, crack, haxixe, Skank (super maconha cultivada em laboratório), coca e anfetaminas.
Já os consumidores de cigarro somam 1,2 bilhão e de bebida alcoólica, 2 bilhões.

Minha Posição

Quem defende a descriminalização já é o colunista. Mas ainda: entendo que o próprio Estado brasileiro deveria assumir o controle tanto da produção como da comercialização das drogas, todas as drogas, inclusive para evitar as adulterações que tanto matam por over dose.
No dia em que o Estado pegar esse pião na unha vai ferir de morte o tráfico de drogas e armas que se alimenta justamente da criminalização, da violência e da corrupção de quem deveria combate-los.

A propósito

Fonte a mais qualificada e da mais alta credibilidade passou à coluna informações segundo as quais morrem em torno de dois adolescentes por mês em João Pessoa durante o cumprimento de medida judicial de liberdade assistida.
Lembrando o seguinte: enquanto cumpre a medida sócio-educativa, o jovem é mantido livre no seu meio de origem, mas sob acompanhamento.
Agosto de 2007 foi o mês do ano passado que registrou o maior número de baixas. Quatro jovens sob o regime de liberdade assistidas foram assassinados na Capital. Precisa dizer por quê?

Fonte: Jornal Correio da Paraíba, 28 de abril de 2008.

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